O universo alegre, divertido e colorido da infância parece não combinar com os conceitos de morte, luto, perda e tristeza.
Contudo, o confronto da criança com a morte irá ser inevitável, pelo que é necessário abordar esta temática sem tabus, como um acontecimento natural, que faz parte integrante da vida de qualquer ser humano.
Comunicar uma má noticia a uma criança não se revela um processo fácil. Comunicar a morte de alguém querido, incontornavelmente, assume-se como um momento extremamente doloroso, até porque, muitas vezes, também o cuidador se encontra a gerir o seu próprio processo de perda.
É muito comum o pensamento de que a criança é ainda muito pequena para entender o que aconteceu. No entanto, a decisão de não comunicar pode vir a ser inglória, ao ser um fator gerador de confusão quando a criança não consegue integrar, sem ajuda, o motivo de haver tantas mudanças em seu redor. A evidência diz-nos que as crianças sentem a perda. Inclusivamente, podem senti-la muito precocemente. Por isso, precisam que um adulto, com quem tenham uma relação afetiva segura, as ajude a elaborar o “desaparecimento” de alguém, muitas vezes próximo e muito querido por elas.
Caso contrário, dado que ainda tem, em seu redor, um cenário de fantasia marcado, pode criar narrativas que em nada se coadunam com o que realmente aconteceu. Podem chegar ao ponto de se sentirem culpadas pela morte, pensamento que resulta num grande sofrimento.
Considerando a sua idade, o que é que a criança pensa sobre a morte?
Dos 0-2 anos: O conceito de morte não existe. Esta é percebida como ausência e falta, frequentemente, comparável a uma experiência de dormir e acordar.
Crianças dos 3 aos 5 anos: A morte é percebida como um fenómeno temporário e reversível, muito relacionado com a imobilidade.
Entre 6 aos 9 anos: Compreende a irreversibilidade e há uma diminuição do pensamento mágico. Por vezes, é-lhe difícil explicar, de modo concreto, as causas da morte.
Pensando na idade e não havendo, naturalmente, receitas mágicas, há algumas dicas que podem ser uteis para uma comunicação mais eficaz:
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Preparar-se emocionalmente para esse momento;
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Escolher um local privado, de preferência, sossegado e que evite estímulos;
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Perceber o grau de entendimento da criança;
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Ir explicando, pouco a pouco, de forma simples e concreta, o que foi acontecendo à pessoa;
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Dar espaço à criança e perguntar se ela percebeu o que foi dito;
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Neste ou noutro momento, explicar os rituais fúnebres;
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Num momento posterior, preparar, em conjunto com a criança, uma forma de despedida (carta, desenhos, flores, fotografias).
É importante não esquecer que o modo como as crianças e os adolescentes elaboram o conceito de morte depende da fase de desenvolvimento em que se encontram. Mostra-se, por isso, fundamental uma comunicação efetiva e sincera, que os ajude a organizar o seu processo de luto e a prevenir problemas reativos e futuros, dando espaço para sentirem a perda.